Novo Tempo
(por Antonio Samarone)
“Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio”. – Brecht.
Só Deus está fora do Tempo, por ser eterno. A insistente pergunta, o que Deus fazia antes de ter criado o Universo, para a narrativa criacionista é absurda. No mesmo momento que criou o Universo, Deus criou o Tempo. Antes, o Tempo não existia.
Para conciliar essa contradição, São Tomaz de Aquino concebeu três tipos de Tempos: o dos fenômenos terrestres, com começo, meio e fim; o eterno, sem começo e sem fim, prerrogativa dos deuses; e o dos anjos, corpos celestes e ideias, com começo, mas sem um fim.
Infelizmente, o meu Tempo é o terrestre, esse que acaba. E, desconfio, que se aproxima velozmente do Fim! Até a velocidade da luz é finita.
Durante a antiguidade e boa parte da idade média predominou a ideia do Tempo cíclico. O Tempo linear é uma criação judaico cristã.
Foi Galileu quem introduziu o Tempo nos estudos dos movimentos, no início da ciência moderna. Surgiu a necessidade em se medir o Tempo. A física de Descarte era qualitativa.
A partir de Isaac Newton o Tempo se incorporou a cultura ocidental. Para Newton, o Tempo e o Espaço eram os sentidos de Deus. O Tempo e o Espaço eram absolutos.
Einstein descobriu que Tempo e Espaço não são absolutos, estão conectados entre si e dependem da velocidade do observador, e chamou a essa elucubração de teoria da relatividade. Tese que ninguém discorda, mesmo sem ter entendido nada. Ele ainda provou a sua teoria matematicamente.
O senso comum pensa que Einstein ao provar a relação tempo/espaço, descobriu que “tudo é relativo”. Estava legitimado o achismo. Cada um acredita e defende o que der na veneta. Sem precisar fundamentar nada, já que tudo é relativo.
Quando o sujeito não tem mais argumentos para defender o que pensa, encontra-se na mais completa escuridão, ele apela para a filosofia básica das redes sociais: “Isso é muito relativo, cada um tem o seu jeito de pensar”. Isso já virou um direito.
A discussão dos filósofos sobre o Tempo é mais complicada, quase uma perda de tempo para os leigos.
As ciências pleiteiam um Tempo próprio. Existem os Tempos musicais. Os Tempos de guerra e de paz, de plantar e de colher. Vivemos um Tempo das trevas, das Pestes e da pós verdade. O rebanho humano está agitado, perdeu as raízes, encontra-se à espera da imunidade prometida.
Existe até um Tempo histórico!
Espero que antes do apocalipse, do fim dos Tempos, venha o milenarismo do Profeta Isaias. Creio na volta de Dom Sebastião, como a minha mãe, devota do Padre Felismino, anunciava.
Tempo, tempo, tempo, tempo/ Compositor de destinos/ Tambor de todos os ritmos/ Entro num acordo contigo...” – Veloso. A proposta é você reduzir a pressa. Entretanto, parece que o diálogo acabou.
No brasil, “A cadela do fascismo está no cio”! (Brecht)
Esse arrodeio foi para desejar um Feliz 2021 a todos, um Novo Tempo, mesmo sem muita convicção.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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