As Touradas de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
Sem televisão, as noites em Itabaiana limitavam-se a Igreja Matriz e ao Cinema de Zeca Mesquita. De vez em quando a rotina era quebrada pela chegada de um Circo.
O Circo de Geraldo Sem Medo era especializado em touradas.
Longe das touradas espanholas. Em Itabaiana, os bois eram arrumados pelos fazendeiros locais, muitas vezes bois mansos, que reagiam mais pelo susto do ambiente hostil, numa arena diminuta e zuadenta.
Outra marca das touradas itabaianenses era a torcida. Todos torcíamos pelos touros. O desejo da turba, era o toureiro ser vazado pelos chifres bovinos e estrebuchar ali mesmo, sob os urros dos presentes. A destreza do toureiro era minimizada.
Era voz comum: Com esses bois mansos, eu também sou toureiro! Eu queria ver era Geraldo Sem Medo enfrentar um boi valente!
E o dia chegou!
Circulou um boato que João do Volta, um fazendeiro conhecido, botaria uma trinca de bois brabos, para desmanchar a fama de Geraldo Sem Medo. Só se falava nisso na cidade: “Hoje vai ser os bois de João do Volta.”
O circo entupiu de gente. Até o professor Gabriel compareceu em sua cadeira de rodas.
No auge do rebuliço, os bois de João do Volta arremessaram contra a cerca da pequena arena e ela arrebentou. Foi um desespero da plateia, com os bois soltos.
Corre-corre, pega-pega! Lembraram do cadeirante Gabriel. Alguém gritou: “Gente, pegue Gabriel!” Talvez para salvar o professor.
E aquilo virou uma algazarra: “Pegue Gabriel, pegue Gabriel, pegue Gabriel!” Todos gritavam numa só voz.
E o velho professor deficiente, num clímax de indignação, reagiu: “Filhas da puta! Deixem pelo menos que os bois decidam, quem eles querem pegar.”
Essa é a alma itabaianense.
Em outra passagem, chegou um circo cheio de novidades, tinha até trapézio. Na estreia, todos ansiosos para ver os riscos do trapézio. Ficaram decepcionados, quando estenderam uma rede de proteção, para evitar acidentes em caso de queda.
Seu Valdez da Padaria reagiu em voz alta: “Com rede de proteção até eu posso tentar! Não vejo graça.” E todos saíram falando mal do circo. Ninguém queria apreciar as destrezas dos trapezistas. O que atraia era o risco da queda!
O mesmo acontecia com o “Globo da Morte”, onde vários motociclistas rodavam desesperados, em alta velocidade, dentro de uma bola de metal. A plateia torcia pela queda dos artistas.
Não vamos exagerar, ninguém queria que eles morressem, mas que, pelo menos, caíssem e quebrassem um braço, para que deixassem de ser abusados.
Eu mesmo, não vejo graça naquelas touradas de Sevilha. Para falar a verdade, torço para o touro botar o toureiro para correr!
Por mim, acabavam com aquela barbaridade.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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