A Peste Branca em Sergipe
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
A tuberculose é antiga. A medicina romana descrevia “frio na traqueia, tosse, pleurisia, tísica e cuspir sangue”, como doenças que se curam com dificuldade.
Entretanto, a doença só se transformou em problema de Saúde Pública após a revolução industrial. Foram os aglomerados urbanos que favoreceram o crescimento da Peste Branca.
Em 1868, Antoine Villemin, médico do exército francês, demonstrou que a tuberculose era causada por germes microscópicos, que se multiplicavam no organismo.
Em 1882, o médico rural alemão, Robert Koch, descobriu o bacilo causador da tuberculose, que passou a levar o seu nome.
A tuberculose chegou ao Brasil com os brancos em 1500. Era a febre hética, lenta, consuntiva. O povo chamava a doença de fraqueza do peito, chaga dos bofes, sangue pela boca e tísica. Aos fracos do peito, os médicos recomendavam leite de burra ou de cabra, logo cedo, em jejum.
A tuberculose matou gente importante no Brasil: Os poetas Castro Alves e Noel Rosa, sem falar do Imperador. Dom Pedro, o primeiro do Brasil e quarto de Portugal, faleceu na Real Quinta de Queluz, nas cercanias de Lisboa, aos 36 anos, tuberculoso.
Em 1884, fundou-se em Cascadura, subúrbio do Rio de janeiro, por razões climáticas, o primeiro hospital para tísicos no Brasil.
Era o início do isolamento.
Em 1927, teve início a vacinação com o Bacilo de Calmette e Guérin (BCG), em recém-nascidos.
Em 1936, o médico brasileiro Manoel Dias de Abreu, desenvolveu um novo método diagnóstico que combinava a radiografia de tórax e a fotografia, o qual ficou oficialmente conhecido como “abreugrafia”.
No início do século XX, a tuberculose despontou como um problema de Saúde Pública em Sergipe. Talvez o fim da escravidão, tenha transformado a tuberculose num problema social.
Antes, o escravo morria isolado na senzala, com o trabalho livre, os tuberculosos passaram a transitar entre os bem nascidos. Tornaram-se um risco sanitário.
Em 1902, Dr. José Moreira de Magalhães, diretor clínico do Hospital Santa Izabel, em Aracaju, alertou sobre os riscos dos tuberculosos:
“À princípio, recusei a admissão dos atacados desta terrível moléstia no hospital. Depois, tocado de desgosto em negar amparo a quem mais carece, utilizei pequenos compartimentos isolados, com duas camas, que viviam sempre lotados.”
O Dr. Francisco Fonseca, o Dr. Fonsequinha, um dos maiores clínicos de Sergipe no século XX, defendeu como tese inaugural para a conclusão do curso de medicina, em 1907, “Estudos Clínicos da Hemoptise Tuberculosa”.
Josino Menezes, farmacêutico e Governador de Sergipe (1902 – 1905), assim se manifestou sobre a tuberculose:
“É de aterrar a estatística de mortes pelo bacilo de Koch. Onde ele se manifesta o luto é certo, prejudicando gerações inteiras, nada poupa, avançando em sua faina de destruição, ora como inimigo sorrateiro, covarde, que ataca de emboscada, ora de chofre, com a valentia dos incombatíveis.”
Em 02 de julho de 1917, em grande solenidade, com missa concelebrada pelo Bispo Dom José Thomaz, foi inaugurado um Pavilhão para Tuberculosos, no Hospital Santa Izabel, com 13 leitos. Os Serviços foram entregues à responsabilidade do Dr. José da Silva Melo.
Em 1936, no Governo Eronides de Carvalho, foi inaugurado o Palácio Serigy, onde começou a funcionar um Dispensário de Tuberculose, entregue o comando ao cientista sergipano Lourival Bomfim.
Em 1 º de abril de 1949, foi criada a Liga Contra a Tuberculose de Aracaju, sob a Presidência do senhor Elífio Pedrosa da Rocha, pai do pneumologista que dirigia o Sanatório.
O Hospital Sanatório de Aracaju (para tuberculosos) somente foi inaugurado em 27/03/1954, com 60 leitos. Os Drs. Wilson Franco Rocha e Paulo Faro, pneumologistas, dirigiram o hospital por vários anos.
Em 1982, o Sanatório foi incorporado a UFS e transformado em Hospital Universitário (HU).
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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