A Dança...
(Por Antonio Samarone)
O que é essa febre, que se apossa da criatura levando-a ao frenesi? A dança é uma manifestação do instinto da vida, da mais pura energia vital.
“O Grupo Luar do São João, do Piauí, venceu o concurso regional de quadrilhas, da Rede Globo, com um enredo sobre a Santa Dulce. A fé na Santa está em alta. A quadrilha representante de Sergipe, a Século XX, não foi premiada.”
Postei a informação acima no Tweet, visando chamar a atenção para a popularização da fé em Santa Dulce. Mas as reações foram outras. Criticaram as atuais quadrilhas juninas.
As pessoas reagiram criticando as mudanças no estilo das quadrilhas juninas: "acabou-se a tradição", "as quadrilhas não são mais as mesma, viraram escola de samba", "já possuem até enredo". Choveram críticas, algumas enfurecidas.
Não existem mais quadrilhas como antigamente, dizem os saudosistas.
Fiquei inconformado. Sim, mas como eram as quadrilhas antigamente? Uma dança de salão bem-comportada, marcada em francês (anavantú, anarriê), e que tentava ridicularizar os tabaréus, com as suas vestes remendadas e o passo troncho.
A dança é uma celebração. O que celebravam as quadrilhas afrancesadas?
A dança é uma linguagem além da palavra. O Rei Davi dançou diante da Arca.
A dança é provação, prece, teatro, rituais e terapêutica. Os Xamãs ascendem ao mundo do espírito pela dança.
Na tradição chinesa, a dança permite organizar o mundo, pacifica os animais selvagens e estabelece uma harmonia entre o céu e a terra.
A quadrilha afrancesada não era nada disso. Nada expressava! Era uma imitação simplificada das danças da Coorte francesa. Essa tradição não nos pertence!
Na concepção de Câmara Cascudo, a quadrilha era a grande dança palaciana do século XIX, que abria os bailes das Cortes europeias. Na época do Império, foi sucesso no Rio de Janeiro. No último baile solene do Paço (1852), dançaram vinte quadrilhas.
A quadrilha foi trazida para o Brasil pelos mestres das orquestras de dança francesa, como Milliet e Cavalier, que tocavam as músicas de Musard, o pai das quadrilhas.
A quadrilha se popularizou depois no Brasil, como uma dança caipira.
A quadrilha junina atual, essa que passa na Globo, se modificou. Se transformou num bailado popular. Incorporou a música nordestina. As roupas ganharam brilho e beleza. A dança virou uma coreografia centrada no xaxado e no arrasta pé. E agora, tem até enredo. Celebram a vida, a liberdade e a força da cultura popular.
Por que vocês estão criticando e pedindo o retorno da quadrilha afrancesada? Gente, o que se chamava antes de “quadrilha” era uma imitação, uma veleidade aristocrática.
As quadrilhas juninas, ainda bem, só herdaram da dança francesa, o nome e os pares. Uma herança que pouco acrescenta.
As quadrilhas juninas de hoje, são formas dramáticas de expressão cultural, onde o corpo rompe os limites em busca de liberdade e da harmonia. Um baile perfumado.
Viva os bailados nordestinos (quadrilhas), herdeiras da nossa melhor tradição. Em especial, viva a “Balança mais não cai”, tradição do Beco Novo.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
sábado, 15 de julho de 2023
A DANÇA
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